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Muçulmanos Olhando para Fora: Atitudes para com os Não Muçulmanos

Peter Riddell é Reitor do Centro BCV de Estudos do Islamismo e Outras Religiões, em Melbourne, Austrália.

No segundo artigo desta série,1 nos concentramos em como os muçulmanos veem os de fora, com referência especial aos ocidentais, especialmente cristãos e judeus. Embora o primeiro artigo aborde as diferenças dentro da comunidade islâmica mundial, esta diversidade é de alguma forma compensada pelo efeito unificador dos textos sagrados do islã. As páginas do Alcorão, da Hadith (tradições sobre as declarações e obras proféticas de Maomé), e os muitos textos legais do islamismo fazem frequentes referências a cristãos e judeus.

INGREDIENTES TEXTUAIS

Com porções recitadas em todas as cinco orações diárias, o primeiro capítulo do Alcorão (chamado de Sura al-fatiha) é o segmento mais conhecido mundialmente entre os muçulmanos. O verso sete se refere àqueles sobre quem a ira de Deus recai e aqueles que se desviaram. Estes são normalmente identificados pelos comentaristas corânicos como judeus e cristãos, respectivamente.

Isso monta o palco para pronunciamentos mais incisivos na Hadith. Neste sentido, afirma-se que Maomé tenha dito: “Aquele em meio à comunidade dos judeus ou cristãos que ouvir sobre mim, mas não afirmar sua crença naquilo para o qual fui enviado, e morrer neste estado [de descrença], será apenas um dos habitantes do fogo do inferno.2

Com essa fundamentação escriturística, os textos legais islâmicos procedem em discriminar cristãos e judeus de muitas formas. Al-Risala, um texto jurídico da escola de direito de Maliki, declara: “... A recompensa pelo sangue [compensação financeira, ou “dinheiro do sangue”] pelo assassinato de um homem cristão ou judeu é metade da de um homem muçulmano, e aquela pelas suas mulheres é metade da de seus homens.”3

Alguns eruditos muçulmanos são cuidadosos em salientar que há versos corânicos que demonstram uma visão mais simpática aos cristãos. O verso é Q5:82: “Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos fiéis são os que dizem: Somos cristãos!, porque possuem sacerdotes e não ensoberbecem de coisa alguma.4 No entanto, as referências mais recentes geralmente não são favoráveis a judeus e cristãos, e ao lado da Hadith criam uma impressão geral de negatividade para com não muçulmanos.

Os textos sagrados islâmicos têm um peso muito maior no movimento muçulmano do que a Bíblia nas terras do cristianismo histórico, especialmente na Europa. Comunidades muçulmanas não têm testemunhado ataques aos seus textos sagrados por ideologias liberais e agnósticas, como tem acontecido no ocidente desde o Iluminismo. Para os islâmicos, o Alcorão permanece inquestionável, preciso, e o maior registro da comunicação de Alá para com a humanidade.

ATITUDES

Quando os muçulmanos encontram o mundo em geral, suas atitudes para com não muçulmanos são significativamente moldadas por impressões adquiridas de seus primeiros encontros com os textos sagrados islâmicos em situações de família, escola e mesquitas, onde abundam estereótipos negativos. Por exemplo, encontram-se declarações fortemente polêmicas com relação ao Ocidente, aos cristãos e judeus em panfletos produzidos por sociedades estudantis islâmicas, bem como em livros texto produzidos por governos muçulmanos.5 Um panfleto estudantil de Sheffield, na Inglaterra, declara: “Propagar o evangelho em sua presente forma é tão perigoso e irresponsável quanto a distribuição de qualquer substância nociva e viciante, pois o erro delicia seus seguidores e as consequências são eternas...”6

O antissemitismo muçulmano pode ser especialmente maldoso. Um sermão em uma mesquita palestina no final de 2002 se parecia com algumas declarações que agora emergem em mesquitas na Grã-Bretanha: “Alá os descreveu [os judeus] em Seu Livro, caracterizados por vaidade, orgulho, arrogância, violência, deslealdade e traição, (...) engano e astúcia (...), por isso Alá os transformou em macacos e porcos.”7

O Ocidente em geral também é criticado, como nesta declaração do Partido Islâmico da Grã-Bretanha: “Não há nada nas sociedades ocidentais (...) que remotamente lembre o bom comportamento. Todos andam em soberba, vaidade e pompa; insolentes, arrogantes e prepotentes.”8

A natureza generalizadora desta injúria sugere fortemente que tem uma plateia pronta entre os eleitores muçulmanos, tanto em países de maioria muçulmana como entre as suas minorias no Ocidente.

POLÍTICA E AÇÃO

Esse negativismo predominante traduz-se em maus tratos das comunidades não muçulmanas em diversos locais. Há relatórios consistentes e bem fundamentados de discriminação e perseguição das minorias cristãs em países de maioria muçulmana, como Egito (doravante, E), Arábia Saudita (S), Paquistão (P), Malásia (M) e Indonésia (I), entre outros. A perseguição se manifesta em sete formas fundamentais:

1. Emprego. O acesso a significativas posições de influência no serviço público é muito mais fácil entre muçulmanos. Normalmente a posição de chefe de Estado é reservada a eles (E, S, P, M), mas esse tratamento preferencial também se estende a níveis inferiores da burocracia.

2. Educação. O estudo obrigatório do islã é comum em escolas públicas em países de maioria muçulmana, enquanto que o estudo de outras religiões é excluído do currículo público (E, S, SP, M).

3. A Mídia. Os muçulmanos desfrutam de tratamento preferencial. Os programas religiosos em televisões estatais são reservados para o islã em muitos países islâmicos (E, S, P, M), com as outras religiões sendo completamente omitidas.

4. Legislação. Em muitos países de maioria muçulmana, o governo destina recursos públicos significativos para evidenciar a islamização (E, S, P, M) até mesmo para a criação de departamentos específicos destinados a promover os valores e ensinamentos islâmicos.

5. Culto. Normalmente é muito difícil para não muçulmanos ganhar autorização para a construção e reforma de igrejas (E, S, P, M, I).

6. Propagação. Os não muçulmanos são normalmente proibidos de se envolver em missões entre os muçulmanos (E, S, P, M), enquanto que os muçulmanos são liberados, encorajados e permitidos a buscar convertidos entre outros grupos religiosos.

7. Violência. Tem sido perpetrada contra as minorias cristãs em muitos países de maioria muçulmana (E, P, I), fato que é amplamente reportado por organizações como os Direitos Humanos e a Anistia Internacional.

Talvez mais surpreendentemente, alguns destes fenômenos estão agora ocorrendo no Ocidente também. Em algumas cidades do norte da Inglaterra, como Bradford e Burnley, tem-se vandalizado e até bombardeado igrejas, e clérigos cristãos e suas esposas têm sido ameaçados por jovens islâmicos tentando estabelecer bairros exclusivamente muçulmanos.9

Alguns muçulmanos de mentalidade liberal estão comprometidos em buscar uma compreensão islâmica de pluralismo no século XXI, fazendo espaço em base de igualdade para não muçulmanos. Por exemplo, aqueles incidentes no norte da Inglaterra atraíram a condenação de muitos indivíduos e instituições muçulmanos. No entanto, enquanto os textos islâmicos que depreciam os não muçulmanos forem imunes ao escrutínio crítico por eruditos muçulmanos, o sistema do islamismo continuará a operar contra os liberais.

Dada esta situação, como deveriam os cristãos responder? Que diferença os de fora podem fazer ao islã? Este será o assunto de nosso próximo artigo.10

Notas de Rodapé:
1

Veja a Parte IV desta série: "Muçulmanos Olhando para Dentro: Questões em Debate ente Muçulmanos."

2

Sahih Muslim, trans. Abdul Hamid Siddiqi (Lahore: Sh. Muhammad Ashraf Publishers, n.d.), Book 1, Chapter 71, # 284. This is from the canonical Hadith collection of Abu’l-Husain Muslim bin al-Hajjaj al-Nisapuri. Tradução livre.

3

Ibn Abi Zayd al-Qayrawani, Al-Risala, at International Islamic University Malaysia Website, 37.04, http://www.iiu.edu.my/deed/lawbase/risalah_maliki/book37.html. Tradução livre.

4

Todas as citações do Alcorão constantes neste artigo foram extraídas da versão em português disponível no website http://www.islam.com.br/quoran/traducao/index.htm. (Nota do Tradutor).

5

Michelle Dardashti, “Survey: Saudi Arabian Textbooks Filled with Hatred of West, Jews,” JTA Website, February 12, 2003, http://www.jta.org/page_view_story.asp?strwebhead=Survey:%20Saudi%20textbooks%20filled%20with%20hate&intcategoryid=3. Tradução livre.

6

Extraído de um panfleto do Círculo Islâmico da Universidade de Sheffield. Cf. P. G. Riddell, Christians and Muslims (Leicester: InterVarsity Press, 2004), 150. Tradução livre.

7

Sermão pregado pelo Dr. Mahmoud Mustafah Najem na mesquita do Xeique Ejlin em Gaza, transmitido pela TV da Autoridade Palestina em 1 de novembro de 2002. Veja Ithmar Marcus, “Palestinian Authority Racism and Anti-Semitism,” Palestinian Media Watch, November 4, 2002, http://www.pmw.org.il/index.html. Cf. “Trouble at Leeds Grand Mosque,” MCB Watch Blog, August 21, 2005, http://mcbwatch.blogspot.com/2005/08/trouble-at-leeds-grand-mosque.html. Tradução livre.

8

Declaração do Partido Islâmico da Grã-Bretanha em 1997. Cf. Riddell, Ibid., 50. Cf. also MCB Watch Blog, Ibid. Tradução livre.

9

Cf. Riddell, Ibid., 73-74. Veja também a Parte VII desta série: "Há Liberdade Religiosa em Igual Medida em Países Cristãos e Muçulmanos?"

10

Veja a Parte VI desta série: "Cristãos Olhando para o Islamismo: Dez Formas de Respondê-los."