English Español Français
Insight Kairos
> Referência Bíblica > Precedentes Históricos > Citações e Escritos > Tendências Atuais
> Home > Insight Kairos > Kairos Journal Insight
> Categoria
Acervo da Revista Kairos

Mensagens Oportunas de Convidados Honrados

O Evangelho e a Conservação da Natureza
Peter Harris é o diretor internacional da missão A Rocha - uma “organização internacional para conservação para cuidado do mundo de Deus”

Entre os evangélicos, a autoridade das Escrituras não está em questão. Além do mais, todos concordam que porque todos nós nos importamos com as pessoas que conhecemos, queremos que elas sejam capazes de aceitar Jesus Cristo como seu Senhor mais que qualquer outra coisa que possamos desejar-lhes. Por isso talvez seja especialmente difícil para nós chegarmos a um acordo sobre a percepção de que mesmo assim caímos em formas profundamente antibíblicas de pensar sobre as pessoas, sobre o mundo em que vivemos e sobre o próprio evangelho. Muito frequentemente, em discussões sobre o que constitui a missão, parece que queremos forçar uma escolha entre amar a Deus e cuidar pelo que chamamos de sociedade ou, ainda mais, pelo meio ambiente. No entanto, ao fazê-lo, expressamos uma das nossas mais comuns heresias evangélicas – isto é, que podemos demonstra o amor de Deus somente por uma gama muito restrita de atividades que arbitrariamente rotulamos de “espirituais” (todas as nossas listas diferem – mas cuidar do meio-ambiente está com certeza fora da lista, para a maioria). Neste ponto de vista das coisas, que deve muito a Platão e posteriormente ao Iluminismo, mas pouco às Escrituras, o que fazemos na vida tem pouco a ver com Deus e menos ainda com nossa expressão do evangelho. Como um meio de correção, deveríamos redescobrir o que se segue:

Deus se importa com pessoas, não apenas com almas.
Em Romanos 12.1, Paulo pede que ofereçamos nossos corpos a Deus como um ato espiritual de adoração. Isso não deveria nos surpreender – afinal somos seguidores de Jesus, que assumiu os elementos de Sua própria criação e renunciou a eles para nos dar vida eterna, e então, em seu corpo ressurreto comeu com Seus discípulos. Mas infelizmente podemos facilmente pensar que “espiritual” - que biblicamente significa ‘o que provém do Espírito de Deus’ - implica “não material” – e aqui Platão aparece de novo! Enquanto Deus se comprometeu com o futuro de Sua criação pela ressurreição do corpo de Jesus, nós cometeremos um erro trágico se nos tornarmos indiferentes ao bem-estar da criação – e iremos alienar muito da nossa experiência humana a um lugar alheio ao senhorio de Cristo.

O Evangelho não para com pessoas.
Paulo nos diz em Romanos 8 que toda a criação compartilhará da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Ao invés de cortar partes de nossa experiência da possibilidade da redenção, o desafio para os cristãos é encontrar formas criativas de envolver tudo. No Líbano, a equipe da missão A Rocha tem visto o quanto a caça indiscriminada está ajudando a levar raras aves de rapina migratórias à beira da extinção. Eles sabem que toda a criação é chamada para dar glória a Deus, e enquanto veem os grupos de pássaros dançando em espirais fazendo sua jornada para o vale de Bekaa sob o sol da primavera contra o fundo brilhante do Monte Hermon, é fácil ter um vislumbre do que isso quer dizer. Mas esse é um testemunho que será perdido sem um esforço maior para proteger as aves e trabalhar para despertar a atenção daqueles que vivem sob esse espetáculo fenomenal. Então têm sido capazes de conservar um dos principais pontos de paragem migratória nos pântanos de Aammiq e a estabelecer programas escolares extensivos, os quais têm atraído muito da atenção nacional. No Líbano multirreligioso, é natural explicar que o amor ao Criador, Jesus Cristo, inspira esse projeto cristão.

Missão não é só pregar.
Nunca foi, ou Jesus teria deixado os doentes sem cura. Mas, por trás da dicotomia entre o evangelismo e o cuidado pela criação, estão algumas premissas não confiáveis e infundadas sobre a natureza da nossa missão. Talvez seja necessário um C. S. Lewis moderno para fazer justiça às falhas lógicas que as infestam, mas são grosseiramente semelhantes a um argumento que deve funcionar: “Você pode chegar a Londres de carro, então, a menos que tenha um carro, não poderá chegar a Londres.” Em outras palavras, muitas vezes o amor de Deus é explicado e demonstrado ao se pregar, mas essa não precisa ser a única forma. A explanação de Cristo é essencial, sim, mas antes disso, como nos propomos a ganhar o direito de sermos ouvidos, e onde seremos ouvidos? Perto de Arles, onde trabalhamos com A Rocha, na França, menos de dois por cento das pessoas têm algo a ver com a Igreja cristã. Cerca de metade dos que vivem em nossas cidades são muçulmanos, e aqueles que não são mantêm poucas crenças pessoais ordenadas. Entre os que têm, estão convicções de que a vida e a religião estão firmemente divididas. Economia, artes, o meio-ambiente, dinheiro, sexo e todas as novas formas de família não tem nada a ver com crenças e assim podem seguramente serem deixadas para aqueles envolvidos com a vida pública. Religião é um assunto particular para aqueles que gostam desse tipo de coisa. Assim, qualquer visitante ao campo do centro de estudos da A Rocha é confrontado imediatamente a um desafio a tudo isso. As questões ambientais nas quais a equipe está trabalhando não incluem somente o “como” e o “o que” técnicos da conservação da natureza, mas as questões do “porquê” também. O objetivo de nosso trabalho é tornar claro o caráter do Criador. Questões inevitáveis se seguem. Nosso presidente nacional, Pierre Berthoud, é reitor em uma faculdade teológica em Aix, e explicou recentemente: “A maioria dos franceses são ‘espontaneamente anticristãos’, mas ao mesmo tempo são cada vez mais conscientes do meio-ambiente.” Aí, então, está um ponto de contato a partir do qual podemos declarar todo o conselho e amor de Deus, que cobre toda a criação – desde os pássaros do Líbano até os nossos vizinhos muçulmanos na França.