A Guerra Interna

No outono de 1992, a revista Leadership deu um passo inédito ao republicar um artigo, desta vez com a manchete “Clássicos da Liderança”. Apareceu no décimo aniversário da publicação original do artigo, junto com o relato de que o mesmo “gerara mais correspondência do que qualquer outro e foi classificado por nossos leitores entre os mais úteis.” Seu título: “A Guerra Interior: Uma Anatomia da Luxúria.” Seu autor: “Autor não revelado”.¹

Não muito adiante no artigo, a razão para o anonimato do escritor fica óbvia. Na primeira página, fala de uma visita a um clube de strip em Rochester, Nova Iorque, e mais tarde, nas páginas seguintes, traça sua caminhada descendente para o submundo pornográfico, uma jornada de quase dez anos. E isso foi antes da praga da pornografia na internet.

O autor descreve os efeitos desta exposição, o esfriar da paixão por sua esposa, a dissonância entre o pregador público e o voyeur na vida privada, o espectro da ruína, cujo horror completo o atingiu quando confessou seu vício a outro pastor - apenas para descobrir que este havia mergulhado ainda mais fundo que ele. E então vieram as racionalizações: a nudez era arte; a Playboy tinha ótimos artigos; Davi fizera pior e fantasiar é inofensivo.

Sua consciência e a dessecação de seu espírito não lhe permitiriam sustentar a mentira. Clamou a Deus por ajuda – e a encontrou. Não foi só no “dizer não”, mas na percepção de pecados que não eram somente “uma lista de pequenas irritações elaboradas para o bem de um Deus ciumento”, mas impedimentos ao crescimento espiritual e barreiras para a intimidade com Deus.

A obra do escritor católico francês e Prêmio Nobel, Francois Mauriac, teve papel importante em sua recuperação. Seu romance Viper’s Tangle (O Ninho de Víboras) e memórias What I Believe (O Que Creio) foram especialmente úteis. Um capítulo sobre a pureza no último livro explicou a razão para a recuperação. Estava fundamentada nas Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus.”

Para este “Autor não revelado”, o arrependimento foi doloroso, mas necessário. Nele descobriu que C. S. Lewis estava certo – que o “arrependimento não é algo que Deus exige de você antes de Ele o aceitar de volta e que Ele poderia deixá-lo de fora se escolhesse; é simplesmente uma descrição do que é voltar.” E, tendo rejeitado, a pornografia por um ano no tempo em que escreveu, o autor ofereceu uma “estratégia de batalha” com dez conselhos práticos, por exemplo: “Chame a luxúria pelo seu próprio nome; pare de alimentá-la”.

No inverno de 1988, a Leadership pediu-lhe um relatório de progresso, que apareceu como “A Guerra Interior Continua”.² Confessou que havia tropeçado uma vez, mas se levantou rápido e fugiu rapidamente do lugar. Continuava aprendendo que “o maior perigo da pornografia está em sua falsa representação da sexualidade”. Percebeu as cicatrizes da “inocência perdida” mas agradeceu pela “Emanuelidade” de Deus: “Ele está com você quando é bem sucedido e quando fracassa.”

A revista passou as cartas para seu autor anônimo. Alguns “deram conselhos severos”, com exortações bíblicas. Alguns o repreenderam por falar tão abertamente desses assuntos, mas “mais da metade expressou profunda gratidão.” Muitos começaram com as palavras: “Achei que fosse o único com esse problema.” Daí a grande popularidade desse artigo e sua republicação.

Naturalmente, “A Guerra Interior” não é um fenômeno de publicação, mas uma reflexão de um terrível fenômeno espiritual no seio da Igreja. Assim como foi vital para esse homem falar francamente sobre a luxúria em sua própria vida, a Igreja precisa enfrentar essa crise em seu meio. Se não, em impureza e sem arrependimento, irá fracassar em “ver a Deus”. E se ela não O vir, quem o verá?

Notas de Rodapé: